O sol não dá trégua
A água sai pelos meus poros
e a mente fica lenta
O pensamento custa a se concretizar
e o raciocínio não se completa
O desencanto urbano predomina
O desfile de sacolas é constante
afinal chegou o fim do ano
As luzes coloridas distoam
do cinza horrendo da realidade
Urubus em meio a paisagem
Disputam restos dos restos
com restos de gente
Dignidade? Quem se importa?
Saciar a fome é o que interessa
E em meio aos enfeites natalinos
estômagos recebem a podridão
Quem chegar primeiro
vai levar o melhor pedaço
De novo os "amigos" urubus
anunciam a presença da morte.
São solemente ignorados
pelos farrapos humanos
que a sociedade excluiu.
No final representam
a disputa desesperada
pelo mínimo da vida.