Os pés definem passos sem ritmo
Levando um corpo a lugar algum
Passando por um jardim florido
Com inúmeros canteiros pisoteados
Flores brancas, vermelhas, amarelhas
Rosas, violetas, cravos...
Despedaçadas!
Dilaceradas!
Pétalas colorem o chão.
Gritos se misturam ao som urbano
Composto pela sinfonia desafinada
Das buzinas e incontáveis desaforos
O bêbado alheio a tudo
Continua agarrado a um corote
Olhando a bunda da madame
Laranjas rolam pelo chão
Tomates exalam o azedume
Moscas sobrevoam o peixe
E o cachorro rouba
Carne vencida do açougue
Crianças fogem da escola
E algumas viram mulheres
Muito antes da hora
Meninos viram perigosos marginais
Se transformam em manchetes de jornais
Protagonizando banhos de sangue
Enquanto isso, o José
Chega do serviço
Traz um copo com farora
Junto com o churrasco de gato
Liga a Tv no BBB
E ainda não admite
Que além de Zé, é Mané!
E todo dia isso se repete
Sem nenhuma variação
No máximo é a chuva que castiga
Ou o sol que martiriza
Para sempre, a repetição.
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