segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Dissabores de uma noite

E o cinza invade a minha mente,
toma conta da minha alma.
Talvez vendando os olhos 
ou simplesmente atrapalhando
os sensores da intuição.

Muitas coisas perderam a graça,
apesar da minha noite querida.
Amo-te boemia,
mas já enjoei
de várias canções repetidas

Passa a noite e volta o dia,
mas há o que continua igual.
Simplesmente vou vivendo
tornando o sem graça
algo tão banal...
As ilusões que se dissolveram
terminam de existir.. 
Na verdade, eram ausentes
apenas resolveram partir.
O mundo cão está presente
em qualquer lugar
basta abrir um jornal
no conforto do seu lar...

Basta!



E ao andar no sol escaldante 
Sinto a pele torrar e o suor escorrer
e começo a pensar naqueles menos favorecidos
que nem dinheiro para o ônibus lotado tem
e olha que a sardinha em lata fazia melhor viagem que eu...

Educação precária
Falta de comida na mesa de alguns
Saúde pedindo socorro
E dos pratos das criancinhas
são retiradas generosas porções

Livros? Para quê? 
Deixar o povo esperto?
Quanto menos instrução
melhor para a conta bancária
do político ladrão,
que não se importa de ver
a dona Maria numa fila perecer,
enquanto ele passeia com a família no exterior, 
a patroa faz plástica e se entope de botox,
a filha patricinha se enche de quinquilharias de grife
com o dinheiro suado e a custa dos impostos
do tão maltratado povo brasileiro,
que está se preparando para alimentar
essa intensa roda vida,
que se repete faz décadas
e sustenta vários parasitas.
Eles sugam não somente o dinheiro
mas a energia, a boa vontade
e principalmente a esperança.
O povo nem espera mais qualquer mudança
e se limita a votar no menos pior,
"porque ele rouba, mas faz".

E o ciclo continua a cada dois anos,
mas deveria ser interrompido.
Não devemos querer o menos ruim,
o mais simpático ou o candidato querido
devemos querer o melhor.

O grande problema do brasileiro
é querer só reclamar,
pois quase ninguém se dá ao trabalho
de não somente protestar,
mas saber o que estão decidindo
e o que realmente é importante para nossas vidas.
E muitos ainda estufam o peito e dizem orgulhosos:
"Eu odeio, política!"
É isso que eles querem, pois assim vão sempre decidir
o que for melhor para eles e pior para você!

Acorda cidadão!
vamos gritar e dar um basta
a essa nojenta situação!
Pois o país é nosso
e infelizmente sustentamos
os sanguessugas da corrupção.
Eles que dependem de nós para estar no poder,
contam com a nossa alienação
e a velha tônica do "não quero saber".
Nos enchem mais com a política do circo,
porque muitos nem chegam perto do pão.
E se o povo não mudar a postura
tais correntes nunca se romperão.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Pôr do sol


E o sol se pôs
Encerrando a parte clara do dia
Agora a noite inicia...

Para muitos é a parte amena
E mais aguardada do conjunto
Das prolongadas
Ou curtas
Vinte e quatro horas

Aconchego da escuridão
Ou o mais doloroso açoite
Da impiedosa dama da noite?

Depende do ponto de vista...

Tensão


E a angústia de instala no ambiente
Retendo palavras na minha mente
Mas que adorariam ser liberadas
Gritos contidos não cessam no pensamento
E a ponta da língua a todo instante
Se prepara para articular pronúncias
Que insistem em ficar ocultas
Por trás da calma e tranquilidade
A guerra mental está a todo vapor
Gritos, barricadas, protestos e batalhas
Estão dentro de um corpo paralisado
Em uma cadeira macia e confortável

Derrocada de um castelo


Castelos de areia são desmontados
Com a força das ondas
E dos pés vorazes
As águas beijam delicadamente uma praia lotada
A companhia solitária da multidão
Ignora o micro universo em forma de gente
Onde verdadeiros tsunamis acontecem
Com o passar das horas

Pequenas estrelas deixam de brilhar
Se sufocando na escuridão da mentira
E deixam de viver para viver a vida.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Tributo à enchente

Os caminhos vão seguindo com a chuva a lavar
A sujeira urbana forma a correnteza
composta por lama, suor, restos pútridos,
insatisfação, injustiça, incompreensão...
Alguns na bonança em suas camas
enquanto outros ficam em companhia da desilusão
As marombas vão subindo e as costas encurvando
O lixo invade as casas junto com as reclamações

Praguejam o tormento que buscaram para si
Tudo o que vai, retorna três vezes
E o sofá que estava no igarapé
Agora quer novamente o abrigo da sala
E assim a rataria toma conta da pobre morada
O medo e o fedor do chorume também
A podridão do esgoto é a companhia eterna
Porém agora está mais perto, de maneira mais fraterna.

- Curumim, sai daí!
- Cunhantã, venha cá!
São os pais a gritar e a proteger a enorme cria
O reino da fome e da ignorância continua absoluto
Numa infinita involução
Nossos nobres governantes continuam fazendo pouco
Da iletrada e pisada população
"Para Miami? Vou mesmo! Quem manda esse povo não saber votar!
Então, a plebe burra que morra!!!"

Escolha de caminhos

O trovão anuncia a terrível presença no céu aparentemente límpido. Um som sinistro contrasta com a beleza celestial, constituída pelo intenso azul e o canto dos pássaros em nada combina com a chegada de nuvens pesadas e cinzentas.
A tarde segue com o ritmo desinteressante de sempre e a ira continua a querer explodir o tristonho coração de um ser desiludido em relação a amores e projetos de vida. Pelo menos amargos dissabores impulsionam para estradas desertas, ainda não exploradas. Sempre espera-se que no final da trajetória esteja uma lagoa com águas puras e que uma fênix recém-surgida das cinzas sobrevoe a cabeça de todos, num lugar bem alto, mostrando quem pode chegar mais além e atingir distâncias maiores.

Caso do acaso

O acaso será que existe?
Ou é um meio de acreditarmos
na existência do destino?

É o que move a vida?
Ou simplesmente serve
para mudarmos o caminhar?

Encontrar novas direções
soluções
desapegos
esperanças
curas
batalhas
chegadas
saídas
ilusões
sonhos
realidades abstratas
realidades concretas

tijolo
alicerce
muro
casa
prédio
construção
destruição
recomeço

ciclo
finito
infinito
partida
chegada
nova viagem
novo destino
novo destino
nova viagem

Fragmentos de diversas tardes

A agonia da espera tortura os ansiosos, 
abala um pouco aos calmos
e no final atormenta a todos.

***

Em pé, contemplo da janela um espetáculo,
composto por atores que representam papéis reais.
Muitos extremamente apressados, cheios de metas a cumprir.
Outros com uma vida simples, que não passa de dias a seguir.

***

A grama verdeja com a água e o sol,
mas os solados impiedosos transformam o verde
num imenso amontoado de secura e barro.

***

Um prato está vazio aqui na mesa
e um outro está completamente cheio,
na mesa aqui do lado.

***

Eis que num simples devaneio
surgem mirabolantes soluções.
Quem sabe pego um avião
rumo à eternas excursões.

***

Espeto no coração
Suspiros da alma
Corpo padece
A mente implora
Destino ignora

***

A cada dia tento derrubar um pequeno tijolo,
Cuja extração transforma o suor em sangue,
O pensamento no martírio mais insuportável
E a saudade de coisas que eu não vivi,
Em distâncias cada vez mais longas...

***

No alto de uma montanha calma e extremamente tranquila, uma jovem contempla a paisagem, enquanto o sono cede lugar à tristeza intensa e ao descaso completo. As lágrimas secaram e os gritos de dor ficaram contidos. Fecha os olhos. A escuridão toma conta. Abre os olhos. Acorda num minúsculo compartimento. O lugar era outro, mas tudo continua a mesma coisa...




quarta-feira, 14 de março de 2012

Constelações ilusórias

Pessoas vem e vão
na intensa alucinação.
Na madrugada as lembranças invadem,
abandonam a mente
e derrubam
os castelos de areia.

Se agregagam a constelações,
onde brilham lado a lado,
mas se ofuscam no brilho próprio.
Não enxergam o que está junto,
numa infinita ilusão.

Sociedade do ser
e não do somos.

Enterrados no orgulho
do "eu" eterno.

Sinfonia Urbana

Os pés definem passos sem ritmo
Levando um corpo a lugar algum
Passando por um jardim florido
Com inúmeros canteiros pisoteados

Flores brancas, vermelhas, amarelhas
Rosas, violetas, cravos...
Despedaçadas!
Dilaceradas!
Pétalas colorem o chão.

Gritos se misturam ao som urbano
Composto pela sinfonia desafinada
Das buzinas e incontáveis desaforos

O bêbado alheio a tudo
Continua agarrado a um corote
Olhando a bunda da madame

Laranjas rolam pelo chão
Tomates exalam o azedume
Moscas sobrevoam o peixe
E o cachorro rouba
Carne vencida do açougue

Crianças fogem da escola
E algumas viram mulheres
Muito antes da hora
Meninos viram perigosos marginais
Se transformam em manchetes de jornais
Protagonizando banhos de sangue

Enquanto isso, o José
Chega do serviço
Traz um copo com farora
Junto com o churrasco de gato
Liga a Tv no BBB
E ainda não admite
Que além de Zé, é Mané!

E todo dia isso se repete
Sem nenhuma variação
No máximo é a chuva que castiga
Ou o sol que martiriza
Para sempre, a repetição.