sexta-feira, 23 de abril de 2010

O retorno da caixa

De olho na telinha da maléfica caixa, a hipnose nunca cessa. A caixa não oferece somente recompensas financeiras, mas deleita o telespectador com "delícias" nada sáudáveis à alimentação intelectual. Não é somente a busca pelo dinheiro que motiva alguém a permancer horas a fio diante de um vidro...A curiosidade humana, principalmente quanto a assuntos nada relevantes é um fator que explica como é possível alguém permanecer tanto tempo com as nádegas "pregadas" em uma cadeira, sofá, poltrona, seja onde for.

Os assuntos irrelevantes para a vida de um indivíduo servem como meio de fuga, rumo a um mundo mais glamuroso do que o desbravado durante o cotiano. Um mundo onde não há necessidade de se espremer dentro de um ônibus, para chegar num trabalho muitas vezes odiado e que ainda por cima paga uma mixaria, um lugar onde o que acontece são festas, paquera e prêmios. Embora seja compreensível que um morador de uma beirada de igarapé ou de barranco, cuja casa vive ameaçada por qualquer temporal, esteja cansado de ver miséria e angustiar a alma com mais desgraças, é um crime alienar tais pessoas. A dimensão fantasiosa é repleta de anestésicos, para não dominar o pensamento crítico e diminuir a possibilidade dessa pessoa de abandonar a pobreza e rumar à bonança. Muitas pessoas perdem um precioso tempo "dando uma espiadinha" em indivíduos que não farão nada por eles, enquanto poderiam tentar fazer algo de concreto por si. A maioria permanece no voyerismo coletivo.

Um local bem interessante para constatar o poderoso efeito anestésico da caixa é o ônibus. Pelas janelinhas é possível ver indivíduos em suas casas ou nas bancas de rua paralisados diante de uma televisão ou ter como fundo sonoro, enquanto não chega a parada, conversas sobre as espiadinhas:

-- O fulano é um gato! Eu quero que ele fique!

-- Gato? Ele é um chato que só come, dorme e olha pra bunda das meninas. Ele tá jogando muito. Quero que ele saia.

-- Eu queria que ele olhasse para a minha, porque de mim teria o tratamento que merece...Ele é tudo de bom! Às vezes fico pensando se ele é bicha. Tem tanta garota bonita nessa edição e nada!

E assim vao continuando a conversa. Durante o dia todo desconhecidos falam intimamente de outros ilustres desconhecidos, como se convivesse com eles lado a lado. Talvez deêm mais atenção aos famosos anônimos da televisão do que aos próprios filhos, pais ou qualquer outra pessoa que realmente seja importante, pois não é difícil encontrar uma mãe falando com maior exatidão sobre os fulaninhos (de tamanho da cueca até a marca de papel higiênico que usa) do que sobre os próprios filhos, ignorando quem é o melhor amigo, notas na escola, entre outras coisas.

Vamos dar uma espiadinha, mas na nossa realidade.

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